tópicos:Morador de rua ficou sob a chuva e o sol durante quatro dias (Foto: Marina Fontenele/G1)
Um morador de rua que precisa de atendimento médico teve o pedido de socorro negado pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). A informação é do guarda municipal de
Aracaju, Edgar Oliveira, que ligou para a unidade por volta de 9h desta segunda-feira (9). O homem de cerca de 35 anos ficou deitado em um colchão sob sol e chuva desde a quinta-feira (5). Desorientado e fraco, ele não consegue se levantar e mal fala e se alimenta.
Trabalhadores da região do Mercado Municipal Thales Ferraz, no Centro da capital, procuraram os guardas municipais para pedir ajuda. “Quando notei, ele estava se arrastando pela calçada com um colchão embaixo do braço, parou aí e ficou. O pessoal da região está comprando água e salgado para ele comer, mas ele não consegue. Ele reclama de dor quando a gente levanta um pouco a cabeça dele para beber água. Liguei sábado (7) para o Samu, mas eles informaram que não poderiam vir porque estavam em um evento da prefeitura”, relata o lavador de carros Leonardo Jesus dos Santos.“O médico do Samu foi bem grosseiro e disse que não enviaria uma ambulância para atender esse homem porque esse tipo serviço é de responsabilidade da Secretaria de Assistência Social de Aracaju. Mas é visível que ele precisa de atendimento médico antes de ser levado para um abrigo. Ele está muito fraco, não consegue se mexer, está desorientado e não sabe nem informar o nome dele”, afirma o guarda municipal.
Lavador de carros diz que trabalhadores da região do mercado ajudaram o morador de rua
(Foto: Marina Fontenele/G1)
Edgar Oliveira também ligou para o Corpo de Bombeiros Militar (CBM) para solicitar socorro, mas foi informado que as ambulâncias estavam em manutenção. “Diante dessa falta de assistência prestei queixa no Ciosp [Centro Integrado de Operações de Segurança Pública] contra a negligência do Samu e Bombeiros, que informaram não terem como ajudar o morador de rua que está definhando no meio da rua sem apoio do poder público”, explica o guarda municipal.
Na tentativa de amenizar o sofrimento do homem, um grupo de guardas comprou uma sombrinha e disponibilizou uma quentinha para ele. “Nos dispomos a levá-lo na viatura, mas não teve como porque o indicado é leva-lo em uma maca já que ele está com dores no corpo”, revela Edgar.
O homem fez as necessidades fisiológicas no mesmo colchão onde permaneceu deitado por quatro dias pegando sol e chuva. As pernas e pés dele estão inchados e ele não informou se foi agredido fisicamente.
“Diante dessa falta de assistência prestei queixa no Ciosp", afirma Edgar (Foto: Marina Fontenele/G1)
Atendimento
Uma ambulância do Samu só atendeu a ocorrência após a equipe de reportagem do G1comparecer ao local e entrar em contato com a Secretaria de Estado da Saúde (SES), por volta das 13h20. José Castilho de Jesus, assessor de comunicação Fundação Hospitalar de Saúde (FHS), disse que o atendimento ao morador de rua não foi feito logo após o chamado porque a situação em que ele se encontrava não era de urgência nem de emergência.
“Qualquer pessoa que esteja na rua em situação de risco deve ser encaminhada para o serviço de saúde pela Secretaria Municipal de Assistência Social (Semfas), que é responsável pelo primeiro atendimento. Se esse homem não sofreu acidente e não teve crise no meio da rua o problema dele é uma questão social que deveria ser abordado pela secretaria e não uma situação para o Samu atender. Essas pessoas fizeram o acionamento do Samu equivocadamente”, explica Castilho.
Mesmo alegando não ter obrigação, o assessor da FHS disse que ‘excepcionalmente neste caso’ uma equipe do Samu atendeu o morador de rua e o encaminhou para a Unidade de Pronto-Atendimento Nestor Piva, na Zona Norte da capital. Castilho não soube justificar porque mesmo assim a equipe não atendeu a ocorrência na hora do chamado do guarda municipal, mas somente quatro horas depois.
O assessor da fundação informou ainda que entrou em contato com Cristina Rochadel, da Secretaria Municipal de Saúde. “Ela informou que o paciente está sendo avaliado para identificar se ele deve ser encaminhado para o Hospital São José ou para um abrigo municipal”, informa Castilho.
“Após o resultado da avaliação do paciente vai ser iniciado o trabalho de abordagem e avaliação das necessidades psicossociais do cidadão”, finaliza Conceição Soares, da assessoria de comunicação Semfas.
Abaixo segue a nota enviada pela Secretaria de Estado da Saúde:
O SAMU informa que o paciente morador de rua que foi removido nesta segunda-feira, pelo Serviço, para o Zona Norte, apresentou quadro de agitação, fraqueza e dores nas pernas, ficou internado para exames e observação médica. A superintendência do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu 192 Sergipe) esclarece que apesar dessa ocorrência não ser prioridade para o perfil do serviço, o atendimento foi realizado. Esclarece que, muitas vezes, a população liga para o Samu porque não sabe a quem recorrer ou o que fazer em determinadas situações. Por isso, as informações passadas por quem solicita o serviço são tão importantes para a avaliação do médico regulador. Essas informações, quando precisas, garantem não só atendimento adequado na escolha do tipo de Unidade a ser enviada ao local, se Básica ou Avançada, mas, também, na garantia do atendimento evitando que ambulâncias se desloquem desnecessariamente para locais deixando de atender casos mais graves.
“Ao acionar o Samu, o cidadão deve se identificar, informar o endereço com precisão, com um ponto de referência, além do nome do paciente, sempre que possível. Depois de passar esses dados, o solicitante irá falar com o médico regulador que irá fazer algumas perguntas a fim de estabelecer um diagnóstico da situação e poder decidir se o caso requer uma orientação ou o envio de uma ambulância. O médico regulador tem a função de definir o melhor procedimento para o paciente, seja procurar um posto de saúde, designar o envio de uma Unidade de Suporte Básico (USB) ou, de acordo com a gravidade do caso, o envio uma Unidade de Suporte Avançado (USA), popularmente conhecida como UTI móvel “, explica Silas Lawley, superintendente do Samu.
O médico regulador precisa coletar as informações para poder identificar as verdadeiras urgências e emergências e poder priorizar o atendimento, como nos casos de: problemas cardiorespiratórios, intoxicações, queimaduras graves, trabalhos de parto onde haja risco para mãe ou para o feto, tentativas de suicídio, acidentes automobilísticos com vítimas, afogamentos, choques elétricos, acidentes com produtos perigosos etc.
Hoje um grande problema enfrentado pelo Samu são os chamados que não deveriam ser atendidos pelo Serviço. Infelizmente, ligações inusitadas fazem parte da rotina do serviço. Muitas ligações são de pessoas que não precisam de atendimento de urgência. Há registro de ligação de paciente que caiu de moto, já em casa, e queria uma ambulância para levá-lo a uma consulta médica e até de pessoa que queria que os médicos do Samu fossem consultar o cachorro dela, pois o animal estava com uma ferida e não podia levá-lo ao veterinário.