Promotor vê abuso de guardas de São Paulo como parte de política da prefeitura
Alexandre Marcos Pereira denuncia que, preocupados em
promover ‘limpeza social’ em ‘sala de visitas’ de Kassab, GCM tem meta
de expulsar do centro pessoas em situação de rua
ltima atualização às 11:40
Ação pede indenização de R$ 20 milhões. Parte do dinheiro
pode ser usado para ressarcir danos morais (Foto: ©Mário
Ângelo/Folhapress)
São Paulo – Fato conhecido para quem circula pela cidade de São
Paulo, a violência da Guarda Civil Metropolitana ficou mais evidente e
foi reconhecida como habitualmente truculenta graças a ação do
Ministério Público Estadual que pode, ao menos, forçar a uma reflexão
sobre o papel que a força de segurança paulistana desempenha.
“Os abusos não são casuais. Na verdade, eles partem de uma política da municipalidade”, afirma Alexandre Marcos Pereira, promotor de Direitos Humanos e responsável pela ação apresentada no último dia 4. Segundo ele, um contrato de gestão foi instituído entre a Secretaria Municipal de Segurança Urbana e a GCM estipulando metas para cada unidade regional. No centro, a meta, entre outras, é a proibição de moradores de rua em pontos determinados. Pereira afirma que essa tática autoriza “emprego dos meios que forem necessários” para impedir a permanência das pessoas em situação de rua. “Existe um sistema de monitoramento por câmeras de vídeo e agentes à paisana e, se houver algum morador de rua nesses pontos, ele é punido”, acrescenta.
Segundo o texto da ação, o objetivo principal da atuação da Guarda “não é proteger as pessoas em situação de rua, mas sim removê-las das áreas de maior visibilidade da cidade, promovendo uma verdadeira ‘limpeza social’, o que já vem ocorrendo, em sentido amplo, com outros segmentos carentes da população paulistana”.
“A prefeitura trata o centro de São Paulo como uma sala de visita. E nessa lógica, tudo que não pega bem e que não é estético é retirado. A população de rua está sendo tratada como objeto”, afirma Pereira.
O argumento do Ministério Público é de que o decreto municipal datado de 2004 que permite que a guarda aborde os moradores de rua é inconstitucional. Segundo a Constituição, os municípios "poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei".
A ação pede uma indenização no valor de R$ 20 milhões, sendo metade desse valor destinado a um fundo que deve reverter o dinheiro para ações de interesses sociais e o restante para eventuais pedidos de indenização por danos morais.
Ambos dizem que já tiveram experiências em albergues, mas não gostaram. “A complicação é que ninguém consegue dormir lá, tem de dizer o nome do pai, da mãe, é a maior burocracia”, conta Erivando. Em função disso, Mateus, que vive desde os 8 anos na rua, teria dificuldades de ser aceito, já que não tem nenhum documento e não conhece ninguém de sua família. “Aqui é público. Mas eles dizem que pode vir um turista querer tirar fotos e a gente atrapalha”, conta.
“A CGM é pior que a PM porque com eles não têm conversa. Já chegam dando chute, levando as nossas coisas. Só não levam a gente porque não tem onde colocar”, acredita Mateus
“Os abusos não são casuais. Na verdade, eles partem de uma política da municipalidade”, afirma Alexandre Marcos Pereira, promotor de Direitos Humanos e responsável pela ação apresentada no último dia 4. Segundo ele, um contrato de gestão foi instituído entre a Secretaria Municipal de Segurança Urbana e a GCM estipulando metas para cada unidade regional. No centro, a meta, entre outras, é a proibição de moradores de rua em pontos determinados. Pereira afirma que essa tática autoriza “emprego dos meios que forem necessários” para impedir a permanência das pessoas em situação de rua. “Existe um sistema de monitoramento por câmeras de vídeo e agentes à paisana e, se houver algum morador de rua nesses pontos, ele é punido”, acrescenta.
Segundo o texto da ação, o objetivo principal da atuação da Guarda “não é proteger as pessoas em situação de rua, mas sim removê-las das áreas de maior visibilidade da cidade, promovendo uma verdadeira ‘limpeza social’, o que já vem ocorrendo, em sentido amplo, com outros segmentos carentes da população paulistana”.
“A prefeitura trata o centro de São Paulo como uma sala de visita. E nessa lógica, tudo que não pega bem e que não é estético é retirado. A população de rua está sendo tratada como objeto”, afirma Pereira.
O argumento do Ministério Público é de que o decreto municipal datado de 2004 que permite que a guarda aborde os moradores de rua é inconstitucional. Segundo a Constituição, os municípios "poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei".
A ação pede uma indenização no valor de R$ 20 milhões, sendo metade desse valor destinado a um fundo que deve reverter o dinheiro para ações de interesses sociais e o restante para eventuais pedidos de indenização por danos morais.
Na pele
Os moradores de rua Erivando Rodrigues dos Santos, de 25 anos, e Mateus Eduardo dos Santos Moura, de 15 anos, são duas vítimas da truculência citada pelo promotor. Há duas semanas, integrantes da GCM confiscaram seus pertences e os impediram de permanecer no coreto da praça da República, no centro de São Paulo. “Tinha algumas roupas minhas, até um dinheiro”, relata Mateus. “A gente fica aqui porque é o único lugar coberto que tem. Se a gente fica na rua pode chover e molhar as coisas”, explica.Ambos dizem que já tiveram experiências em albergues, mas não gostaram. “A complicação é que ninguém consegue dormir lá, tem de dizer o nome do pai, da mãe, é a maior burocracia”, conta Erivando. Em função disso, Mateus, que vive desde os 8 anos na rua, teria dificuldades de ser aceito, já que não tem nenhum documento e não conhece ninguém de sua família. “Aqui é público. Mas eles dizem que pode vir um turista querer tirar fotos e a gente atrapalha”, conta.
“A CGM é pior que a PM porque com eles não têm conversa. Já chegam dando chute, levando as nossas coisas. Só não levam a gente porque não tem onde colocar”, acredita Mateus