Transporte Público
01/04/2013 - 20h38min
Mobilização ganha força e mais de três mil protestam na Capital
Juliano Tatsch
JONATHAN HECKLER/JC
Sem violência, multidão mostrou indignação com reajuste
Depois do ocorrido na quinta-feira
passada, quando alguns manifestantes contrários ao aumento da passagem
de ônibus (de R$ 2,85 para R$ 3,05) em Porto Alegre depredaram o prédio
da prefeitura, no Centro da Capital, gerando confronto com guardas
municipais e soldados da Brigada Militar, a expectativa para a
manifestação de ontem cresceu. O horário era o mesmo. Às 18h, um grande
grupo de pessoas se postava em frente ao Paço Municipal, com gritos de
protesto e palavras de ordem, principalmente direcionadas ao prefeito
José Fortunati. Dessa vez, porém, não houve pancadaria nem excessos.
A
manifestação junto à prefeitura foi rápida. Munidos de ramalhetes,
alguns jovens entregavam flores para brigadianos. “Mãos ao alto, R$ 3,05
é um assalto” foi um dos gritos mais ouvidos durante o ato. Em frente à
porta do prédio, poucos guardas municipais observavam tudo. Do lado de
dentro, muitos outros faziam uma proteção, que se mostrou desnecessária.
O que marcou mesmo a mobilização foi a caminhada pelas ruas do Centro. A
cada passo que era dado, o protesto deixava de ser uma manifestação de
estudantes ou de grupos políticos-partidários e se transformava em um
grito de Porto Alegre. Os jovens estavam lá, mas não só eles. Ao seu
lado estavam homens, mulheres, idosos, trabalhadores e até motoristas de
ônibus, que olhavam tudo de dentro dos coletivos e buzinavam no ritmo
das vozes.
O batalhão de choque da Brigada Militar acompanhou
tudo de perto, o que gerou alguns desconfortos, mas nada grave. Algumas
bombas explodiram, e as ações foram prontamente vaiadas pela maioria. A
avenida Júlio de Castilhos foi tomada, e a multidão foi crescendo a cada
metro caminhado. No total, mais de três mil pessoas participaram da
mobilização que, sem violência e com muita indignação, mostrou que a
insatisfação não é pontual.
José Fortunati garante que licitação sai neste ano
No
meio da tarde, o prefeito recebeu um grupo de estudantes. Eram 16h30min
e os cavalos da Brigada Militar já estavam a postos junto à estação
Mercado da Trensurb se preparando para a manifestação marcada para o fim
da tarde. Acompanhado pelo vice, Sebastião Melo, e pelo secretário de
Governança, Cezar Busatto, Fortunati reuniu-se com uma comitiva de
estudantes para discutir a questão do reajuste nas passagens e tentar,
através de diálogo, criar uma relação de maior camaradagem entre os dois
lados.
O objetivo parece ter sido alcançado, vide as diversas
ocasiões em que o prefeito foi aplaudido pelos jovens, recebidos no
salão nobre do Paço. “Vamos continuar lidando com a lógica do diálogo. O
tema é complexo e estimula o proselitismo, o populismo e a demagogia”,
disse o prefeito.
Fortunati convidou as representações estudantis
a participarem de dois grupos de trabalho que serão criados na
prefeitura: um para discutir a revisão da planilha com os itens que
influem no preço da passagem e outro para elaborar a licitação para o
transporte coletivo de Porto Alegre. Licitação esta que foi reafirmada
pelo prefeito. “Queremos fazer a licitação do transporte coletivo ainda
neste ano, calcada em novas bases, com uma nova planilha tarifária”,
disse. Assim, uma possível redução de preço da tarifa só poderá
acontecer em 2014.
O tema das isenções também foi tratado na
reunião. Para o prefeito, elas são importantes para alguns grupos, mas
precisam ser revistas. “Em tese, se retirássemos todas as isenções, a
passagem baixaria para R$ 2,10. Não estou propondo o fim das isenções,
mas temos de discutir quais devem ser mantidas.”
Para o diretor
de universidades públicas da União Estadual dos Estudantes (UEE), Fábio
Vieira Kucera, o encontro foi positivo, mas ainda é preciso avançar. “O
que temos hoje é melhor do que tínhamos ontem. Hoje podemos sentar à
mesa pautando o que será feito no ano que vem. Isso nunca havia ocorrido
antes. Todo ano acontece a mesma coisa e todo ano ocorre manifestação.
Vamos sentar à mesa, pegar essas planilhas e levar isso para o debate
com a sociedade”, afirmou.
O estudante de Filosofia da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) acredita que as ações
de vandalismo são isoladas e não podem ser encaradas como um ato
coletivo. “A maior parte deles não sai buscando fazer uma baderna. É
importante que a sociedade não entenda que os estudantes são violentos,
baderneiros ou vândalos.” A reunião foi marcada pela ausência de
representação do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Ufrgs.
Conforme testemunhos, dirigentes do DCE foram barrados na entrada do
prédio da prefeitura. A UEE, por sua vez, disse que representantes da
Ufrgs foram convidados, mas não confirmaram a participação no grupo.
EPTC intensifica fiscalização da tabela de horários dos ônibus
A
Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) iniciou ontem uma
ação de intensificação da fiscalização do cumprimento das tabelas
horárias pelas empresas de ônibus da Capital. O trabalho, que será
realizando durante todo este mês, foi motivado pelo aumento das
reclamações de usuários em março.
O diretor-presidente da EPTC,
Vanderlei Cappellari, afirma que sempre que a tarifa é reajustada as
críticas dos passageiros aumentam. E, para Cappellari, a população tem
razão em suas reclamações, pois a tabela está realmente sendo
descumprida por algumas linhas. “Queremos ver se realmente a qualidade
do serviço está caindo. Nossos agentes estão nos terminais fazendo a
fiscalização da tabela, mas também analisando o comportamento dos
motoristas e cobradores e as condições físicas dos terminais dos
ônibus”, explica.
As diversas obras que estão sendo realizadas
simultaneamente na Capital têm prejudicado o trânsito. Mesmo assim,
Cappellari ressalta que este impacto não condiz com o que está sendo
visto. “Todos os cronogramas de obras visam a diminuir o impacto nos
coletivos. Uma pequena parcela dos atrasos deve-se às obras, mas uma boa
parte é por desleixo dos operadores, que não estão buscando
planejamento. O usuário se programa para esses horários, e eles precisam
ser cumpridos”, diz.
O controle da tabela horária para aumentar
a qualidade do transporte é uma resposta à população, que está
insatisfeita em pagar R$ 3,05 pela tarifa de um serviço que apresenta
problemas. Cappellari conta que foi duas vezes a Brasília com o prefeito
José Fortunati para buscar a redução no impacto da tarifa de ônibus
como, por exemplo, com a desoneração dos impostos. “Acredito que, em
2014, a tarifa terá um impacto muito menor se essas iniciativas derem
resultado.”