Mobilização ganha força e mais de três mil protestam na Capital
Juliano Tatsch
Depois do ocorrido na quinta-feira
passada, quando alguns manifestantes contrários ao aumento da passagem
de ônibus (de R$ 2,85 para R$ 3,05) em Porto Alegre depredaram o prédio
da prefeitura, no Centro da Capital, gerando confronto com guardas
municipais e soldados da Brigada Militar, a expectativa para a
manifestação de ontem cresceu. O horário era o mesmo. Às 18h, um grande
grupo de pessoas se postava em frente ao Paço Municipal, com gritos de
protesto e palavras de ordem, principalmente direcionadas ao prefeito
José Fortunati. Dessa vez, porém, não houve pancadaria nem excessos.A manifestação junto à prefeitura foi rápida. Munidos de ramalhetes, alguns jovens entregavam flores para brigadianos. “Mãos ao alto, R$ 3,05 é um assalto” foi um dos gritos mais ouvidos durante o ato. Em frente à porta do prédio, poucos guardas municipais observavam tudo. Do lado de dentro, muitos outros faziam uma proteção, que se mostrou desnecessária. O que marcou mesmo a mobilização foi a caminhada pelas ruas do Centro. A cada passo que era dado, o protesto deixava de ser uma manifestação de estudantes ou de grupos políticos-partidários e se transformava em um grito de Porto Alegre. Os jovens estavam lá, mas não só eles. Ao seu lado estavam homens, mulheres, idosos, trabalhadores e até motoristas de ônibus, que olhavam tudo de dentro dos coletivos e buzinavam no ritmo das vozes.
O batalhão de choque da Brigada Militar acompanhou tudo de perto, o que gerou alguns desconfortos, mas nada grave. Algumas bombas explodiram, e as ações foram prontamente vaiadas pela maioria. A avenida Júlio de Castilhos foi tomada, e a multidão foi crescendo a cada metro caminhado. No total, mais de três mil pessoas participaram da mobilização que, sem violência e com muita indignação, mostrou que a insatisfação não é pontual.
José Fortunati garante que licitação sai neste ano
No meio da tarde, o prefeito recebeu um grupo de estudantes. Eram 16h30min e os cavalos da Brigada Militar já estavam a postos junto à estação Mercado da Trensurb se preparando para a manifestação marcada para o fim da tarde. Acompanhado pelo vice, Sebastião Melo, e pelo secretário de Governança, Cezar Busatto, Fortunati reuniu-se com uma comitiva de estudantes para discutir a questão do reajuste nas passagens e tentar, através de diálogo, criar uma relação de maior camaradagem entre os dois lados.O objetivo parece ter sido alcançado, vide as diversas ocasiões em que o prefeito foi aplaudido pelos jovens, recebidos no salão nobre do Paço. “Vamos continuar lidando com a lógica do diálogo. O tema é complexo e estimula o proselitismo, o populismo e a demagogia”, disse o prefeito.
Fortunati convidou as representações estudantis a participarem de dois grupos de trabalho que serão criados na prefeitura: um para discutir a revisão da planilha com os itens que influem no preço da passagem e outro para elaborar a licitação para o transporte coletivo de Porto Alegre. Licitação esta que foi reafirmada pelo prefeito. “Queremos fazer a licitação do transporte coletivo ainda neste ano, calcada em novas bases, com uma nova planilha tarifária”, disse. Assim, uma possível redução de preço da tarifa só poderá acontecer em 2014.
O tema das isenções também foi tratado na reunião. Para o prefeito, elas são importantes para alguns grupos, mas precisam ser revistas. “Em tese, se retirássemos todas as isenções, a passagem baixaria para R$ 2,10. Não estou propondo o fim das isenções, mas temos de discutir quais devem ser mantidas.”
Para o diretor de universidades públicas da União Estadual dos Estudantes (UEE), Fábio Vieira Kucera, o encontro foi positivo, mas ainda é preciso avançar. “O que temos hoje é melhor do que tínhamos ontem. Hoje podemos sentar à mesa pautando o que será feito no ano que vem. Isso nunca havia ocorrido antes. Todo ano acontece a mesma coisa e todo ano ocorre manifestação. Vamos sentar à mesa, pegar essas planilhas e levar isso para o debate com a sociedade”, afirmou.
O estudante de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) acredita que as ações de vandalismo são isoladas e não podem ser encaradas como um ato coletivo. “A maior parte deles não sai buscando fazer uma baderna. É importante que a sociedade não entenda que os estudantes são violentos, baderneiros ou vândalos.” A reunião foi marcada pela ausência de representação do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Ufrgs. Conforme testemunhos, dirigentes do DCE foram barrados na entrada do prédio da prefeitura. A UEE, por sua vez, disse que representantes da Ufrgs foram convidados, mas não confirmaram a participação no grupo.
EPTC intensifica fiscalização da tabela de horários dos ônibus
A Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) iniciou ontem uma ação de intensificação da fiscalização do cumprimento das tabelas horárias pelas empresas de ônibus da Capital. O trabalho, que será realizando durante todo este mês, foi motivado pelo aumento das reclamações de usuários em março.O diretor-presidente da EPTC, Vanderlei Cappellari, afirma que sempre que a tarifa é reajustada as críticas dos passageiros aumentam. E, para Cappellari, a população tem razão em suas reclamações, pois a tabela está realmente sendo descumprida por algumas linhas. “Queremos ver se realmente a qualidade do serviço está caindo. Nossos agentes estão nos terminais fazendo a fiscalização da tabela, mas também analisando o comportamento dos motoristas e cobradores e as condições físicas dos terminais dos ônibus”, explica.
As diversas obras que estão sendo realizadas simultaneamente na Capital têm prejudicado o trânsito. Mesmo assim, Cappellari ressalta que este impacto não condiz com o que está sendo visto. “Todos os cronogramas de obras visam a diminuir o impacto nos coletivos. Uma pequena parcela dos atrasos deve-se às obras, mas uma boa parte é por desleixo dos operadores, que não estão buscando planejamento. O usuário se programa para esses horários, e eles precisam ser cumpridos”, diz.
O controle da tabela horária para aumentar a qualidade do transporte é uma resposta à população, que está insatisfeita em pagar R$ 3,05 pela tarifa de um serviço que apresenta problemas. Cappellari conta que foi duas vezes a Brasília com o prefeito José Fortunati para buscar a redução no impacto da tarifa de ônibus como, por exemplo, com a desoneração dos impostos. “Acredito que, em 2014, a tarifa terá um impacto muito menor se essas iniciativas derem resultado.”
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