segunda-feira, 13 de agosto de 2012


Sexta-feira, 10/08/2012, 01h35

Manifestação vira praça de guerra em Belém

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Esse foi apenas o primeiro grande ato de muitos que ainda virão”. Ainda recuperando o fôlego, era assim que Viviane Reis narrava os acontecimentos de poucos minutos antes, quando estudantes e Guarda Municipal entraram em confronto, ontem pela manhã, em razão de um protesto em frente à sede da Prefeitura de Belém.
A manifestação era contra o aumento da passagem de ônibus, de R$2 para R$2,20, e começou às 8h da manhã, com saída da escadinha da Estação das Docas. Ao chegar no Palácio Antonio Lemos, os estudantes esperavam ser recebidos pelo prefeito Duciomar Costa, a fim de iniciar uma possível negociação, mas não foi o que ocorreu. Em vez disso, cerca de 30 guardas municipais cercavam o prédio, impedindo a entrada dos manifestantes. Os jovens, então, interromperam por 10 minutos o trânsito na rua 16 de Novembro, na lateral da prefeitura.
Quando voltaram, iniciou a confusão. “Eles utilizaram de brutalidade com os estudantes. Nós só paramos em frente à prefeitura. Não houve tempo de nenhuma ação da nossa parte e eles simplesmente começaram a nos empurrar. Foi uma repressão grande, que já havia acontecido antes”, disse Viviane, do coletivo Juntos. Parte dos estudantes, oriundos de escolas públicas e universidades, registrou um Boletim de Ocorrência contra os guardas presentes na ocasião.
Quando sofreram a pressão, alguns estudantes teriam se indignado e jogado pedras contra os guardas. “Deixamos claro que não revidaríamos com violência. Isso foi uma ação de poucos estudantes, a maioria foi apenas vítima das armas dos guardas”, garantiu Viviane. No total, aproximadamente 300 pessoas integravam o protesto.
Um dos feridos foi o universitário Julio Miragaia. Ele foi atingido por uma bala de borracha no braço, caiu e ficou desacordado. O estudante foi atendido pelo Samu (Serviço Móvel de Urgência) e encaminhado ao hospital. Outros quatro estudantes, três homens e uma mulher, também foram atingidos por balas de borracha na perna e no braço. Após atendimento da equipe médica, eles foram liberados.



ATO
Na semana passada, os estudantes fizeram um ato em frente ao Ministério Público, onde protocolaram ação contra o aumento da passagem de ônibus e estão aguardando o retorno. Enquanto isso, o movimentou já marcou novo ato para a próxima terça-feira, realizando o mesmo trajeto, que encerra em frente à prefeitura.



GBEL
Segundo o inspetor Roberto Avelar, os estudantes teriam dado ordem de invasão, correndo então em direção ao prédio da prefeitura. “Fizemos uma linha de retenção para impedi-los de adentrar o espaço, mas eles revidaram nos jogando várias pedras e começando o tumulto”, conta. Foi então que os guardas utilizaram o arsenal de armas não letais, como gás lacrimogênio, spray de pimenta e balas de borracha, a fim de dispersar o movimento.
Sobre os estudantes feridos, o inspetor justifica que com tantas pedras sendo atiradas vários deles atingiram a si próprios, além de terem ferido também homens da instituição. “Vários guardas tiveram ferimentos leves, como cortes e escoriações, mas o guarda Rildo Albuquerque precisou ser levado a um hospital devido a um grande corte na cabeça”, disse.
Além de feridos dos dois lados do conflito, a confusão resultou ainda em uma vidraça quebrada e danos em colunas do Palácio Antônio Lemos, sede da prefeitura.
Anderson Castro, 31, do coletivo estudantil “Juntos” se aproximava do carro-som para pegar o microfone e tentar sensibilizar a Guarda e estudantes sobre o teor do ato quando uma bomba de efeito moral atingiu a cabeça dele, que desmaiou na hora. “Por sorte a bomba não explodiu, mas eu acabei levando dezpontos na cabeça”, relatou. Ele e mais quatro estudantes entraram com uma representação junto ao Ministério Público do Estado do Pará contra a Guarda Municipal de Belém, acusando-os de uso de força desproporcional.
O pavor pela forma como teriam se comportado os guardas teriam feito com que Julio Miragaia, 27, membro do coletivo estudantil “Vamos à Luta”, acabasse deslocando o ombro direito após cair sobre o próprio corpo ao tentar fugir no meio da multidão. Ele precisou ser socorrido pelo SAMU. O assessor de comunicação do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Federal no Estado do Pará (Sintsep-pa), Adriano Abade, 24, estava fazendo a cobertura do evento quando foi alvejado por uma bala de borracha no ombro. A bala chegou a atravessar a correia da mochila.
Ferimentos semelhantes sofreram Raiza Gusmão, e Pedro Ivo, atingidos por tiros de bala de borracha nas costas. Segundo a advogada deles, Leila Mendes, o 2º promotor de justiça de Direitos Humanos e Controle Externo da Atividade Policial de Belém, Aldir Jorge Viana da Silva, está cuidando do caso. “Esperamos que todos os excessos sejam devidamente apurados e punidos”, deseja a advogada. O promotor determinou que os cinco estudantes passassem por exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal, que foi feito na tarde de ontem.
Também passaram por perícia três guardas municipais. Francinaldo e J. Cordeiro, além do guarda Rildo da Costa, 42 anos, que levou uma pedrada na cabeça e deve ficar pelo menos dez dias afastado de suas funções. Após o resultado dos exames e da coleta de depoimentos, o MPE vai entrar com as representações cabíveis.
A Guarda Municipal de Belém se manifestou sobre o confronto durante o protesto contra o aumento da passagem de ônibus. Em coletiva à imprensa, a chefe da instituição, Ellen Margareth, afirmou que o que houve foi “um uso moderado de força” para conter as ações violentas de manifestantes que atiraram paus e pedras. Para Ellen, tudo que o efetivo da Guarda Municipal fez foi zelar pela segurança do patrimônio e da sua própria integridade. “Tínhamos um efetivo de 52 homens, todos armados. Se houvesse truculência o conflito teria sido muito pior”.
Segundo a diretora-superintende da GBel, a manifestação reunia cerca de 600 pessoas e seguia pacífica até que “certos indivíduos” incitaram os manifestantes à violência. “Certas pessoas foram lá para tumultuar. Não eram estudantes. Algumas vinham de passagens anteriores pela polícia por incitação à violência” disse, sem citar nomes.
Ela afirmou também que os estudantes tiveram a oportunidade de se manifestar dentro do Conselho Municipal de Transportes através da União Municipal dos Estudantes Secundaristas – UMES – antes dos protestos, mas esta teria se recusado a participar e não compareceu à votação da tarifa.
O diretor da UMES, Cleiton Rodrigues, confirmou que a entidade não participou da votação, mas questionou a forma como esta foi realizada, com convocação muito em cima da hora e em pleno mês de julho. Segundo ele, a entidade recebeu a carta de convocação para a assembleia menos de um dia antes da realização e não teve tempo de enviar representantes, pois seus conselheiros não se encontravam na cidade. Após serem privados de participar da votação, Cleiton afirma que o mínimo que esperavam era que a prefeitura recebesse os manifestantes e ouvisse o que eles tinham a dizer. “O aumento da passagem de ônibus não diz respeito somente aos estudantes, mas a todos que usam o meio de transporte, os argumentos da chefe da guarda municipal não invalidam a manifestação nem justificam a reação violenta”.
Segundo Ellen Margareth, o tumulto deixou três vítimas também entre os membros da guarda municipal. Um com o braço deslocado e outro com o dedo esmagado. O encarregado de posto Rildo da Costa, 42, sofreu um corte na cabeça por pedra atirada contra ele. “Não cheguei a ver a pedra sendo atirada, só senti o baque quando ela me atingiu. Tirei o boné e passei a mão na cabeça. Quando vi que ela estava cheia de sangue percebi que o machucado havia sido sério”. Há 16 anos na GBel, Rildo já presenciou outros confrontos em manifestações públicas e entende que, na profissão, está exposto a essas situações. “Faz parte da profissão”, disse, sem raiva ou rancor dos manifestantes. Rildo deverá ficar cerca de 10 dias afastado do serviço e seus companheiros um mês.
Os estudantes prometem voltar às ruas na semana que vem para continuar exigindo que a classe estudantil seja ouvida. Entre as reivindicações, além da redução do preço da passagem de R$2,20 para o valor cobrado até semana passada (R$2,00), o passe livre para estudantes e que a lei municipal que determina que os ônibus sejam de graça um domingo por mês seja finalmente implementada.
(Diário do Pará)


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