segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

04/02/2012 10:48 Crack: a pior pedra do caminho

Livre do vício, vendedor de carros diz que esse é o maior mal que enfrentou na história de sua vida Aline Pagnan aline.pagnan@bomdiajundiai.com.br Nas últimas semanas tem se falado muito sobre o fim da cracolândia em São Paulo. No ano passado, Jundiaí viveu uma ação parecida quando a Guarda Municipal fez uma tentativa de tirar os usuários de crack da Vila Aparecida, mas o que se fez foi espalha-los por toda parte. A “pedra”, como é conhecida entre os viciados, não é tão fácil assim de ser combatida. Precisa muita coragem. O BOM DIA conversou com um ex-usuário, que contou o drama de viver drogado dos 15 aos 32 anos. Caiu no crack quando não tinha mais dinheiro para comprar cocaína, mais cara. E foi então que se afundou de vez: “Fui ao inferno”. Ele alerta a sociedade de que é preciso exigir uma ação eficaz dos governos e que de nada adianta virar o rosto e achar que o problema é dos outros. “É utopia achar que as drogas vão sumir do mundo. Mas também sou contra impor tratamento para os dependentes. O próprio usuário precisa ter essa consciência e querer sair dessa vida, mas só o fará com ajuda. Da família, das clínicas que o governo deve oferecer. Sem dor é impossível”, avisa ele, hoje bem empregado no ramo de venda de automóveis. Aos 35 anos, ele lembra que tudo começou com álcool. “Não é a solução, mas é um primeiro passo mudar a postura das famílias de deixar adolescentes consumirem álcool dentro de casa, mudar a concepção de que o caminho para as drogas é longo. Isso é mentira”, explicou. Para ele, as políticas públicas de ambulatórios e clínicas de reabilitação ajudam, mas só isso não resolve. “O crack é um grande problema para a sociedade. Destrói famílias inteiras. É preciso investir em clínicas de portas abertas, porque trancar alguém em um quarto, amarrá-lo em uma cama não resolve.” O jundiaiense classifica o vício no crack como uma doença “progressiva e fatal”. Ele chegou a dizer que é “incurável também”, mas seu exemplo mostra que há saída. Uma coisa puxa a outra/ Quando tinha 14 anos, ele começou a tomar uma cervejinha só para relaxar. “Na minha casa sempre teve muita bebida.” Aos 15, já fumava cigarro e tinha experimentado o lança-perfume num baile de Carnaval. Logo depois começou a fumar maconha. “Não tinha a dependência da maconha, mas ia associando álcool, cigarro e a droga, tudo junto.” Segundo ele, a combinação passou a não dar mais o “barato” necessário. Foi assim que conheceu a cocaína aos 16 anos. “Foi fácil viu, não tem segredo quando a gente quer algo e pode pagar”, alerta aos pais. “Era uma sensação de liberdade. Mas o grupo que eu frequentava usava pouco e eu queria cada vez mais. Eles usavam e iam para casa. Eu varava a noite cheirando.” Ele chegou a consumir dez gramas de cocaína no dia. A dependência foi piorando até que em 1999 veio a primeira internação. “Passei quatro meses em uma clínica de recuperação, fazendo terapia, acompanhamento e fiquei limpo. Mas voltei para casa e mantive os mesmos hábitos. Frequentava os mesmos lugares, via as mesmas pessoas e depois de três anos voltei a usar cocaína.” O crack /Foi nessa época que ele teve o primeiro contato com o crack. “A ação é mil vezes pior e a sensação é rápida. O vício aumenta na mesma proporção que a compulsão de usar.” A cada dia o problema ficava maior, a vontade de usar aumentava e a droga estava sempre ao alcance. “Eu gastava tudo o que tinha para consumir. Cheguei a trocar relógio, som de carro, e tudo mais o que tinha para ter uma pedra.” No auge do vício, ele chegou a usar 60 pedras de crack por dia. Chegou a se trancar três dias em um quarto de motel só para usar a droga. Voltava para casa destruído, passava outros dois ou três dias em uma enorme depressão e logo já queria mais crack. “Eu tinha consciência de que estava me matando. Foi então que eu despertei. Se eu não tivesse agido naquela hora, não estaria vivo.” Ele quis mudar. E, após outras quatro internações, mais terapia e acompanhamento psiquiátrico, e com apoio familiar, ele saiu da vida das drogas e hoje participa de grupos de apoio. “É importante levar essa mensagem de superação para outras pessoas. É possível sair disso. Mas é preciso querer.” E se engana quem pensa que ele se descuida. Sabe que cada dia é uma vitória por não cair no vício novamente. Dise apreende porções turbinadas Policiais da Dise (Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes) de Jundiaí apreenderam na noite desta quinta-feira (02) 500 porções de crack turbinadas. As pedras maiores eram vendidas a R$ 20. Além do crack, outras 500 porções de cocaína e 11 trouxinhas de maconha foram encontradas na casa de um gerente do tráfico, em Cabreúva. A operação, coordenada pelo delegado Seccional Ítalo Miranda Junior e pelo delegado da Dise, Florisval Silva Santos, resultou na prisão de A. J. F. O., 21 anos. Cidades da região também têm suas próprias ‘cracolândias’ As cidades da região também têm problemas com o crack. Mas, ao contrário de Jundiaí, os usuários não se espalharam pelas principais ruas, ficando concentrados em determinados pontos. Em Itupeva, por exemplo, a polícia aponta um terreno no bairro do Calabró como ponto de encontro de usuários de crack. No local também há várias biqueiras para a venda do entorpecente. Já em Várzea Paulista, a Vila Real e o Jardim Bertioga são apontados por policiais como as cracolândias da cidade. Os usuários usam casas abandonadas para consumir a droga. Em Campo Limpo Paulista, o Jardim Vitória, conhecido por ter uma grande área de mata fechada na divisa com Várzea, e o São José 2 e 3, por causa das vielas e barracos, são os pontos preferidos dos usuários de crack. Segundo policiais ouvidos pelo BOM DIA, os locais são conhecidos pelas autoridades, mas como usuários não respondem mais criminalmente, o foco passa a ser as biqueiras onde a pedra é comercializada. “Essa é uma questão de saúde pública. Tratar o usuários é complicado, é caro, mas é uma das soluções. Enquanto isso combatemos a chegada da droga nos pontos de venda”. Para uma outra autoridade, o CAPs (Centro de Atenção Psicossocial-Álcool e Drogas) representa um avanço, "mas é preciso investir no preparo e capacitação dos profissionais. O CAPs não consegue resolver o problema da dependência química sozinho. Algumas decisões são clínicas, mas outras são sociais.” Para eles, apenas tirar os viciados das cracolândias não resolve o problema da dependência. “É preciso oferecer serviços para esses indivíduos, associados a outras medidas. Ao encarar a cracolândia como uma área de traficantes e apenas querer limpar o espaço, se corre o risco de piorar a situação daqueles que estão seriamente dependentes do crack.” Em julho do ano passado, a GM de Jundiaí fez uma operação que resultou na retirada de dez barracos utilizados por usuários de crack e óxi em terrenos na Vila Aparecida e no São Camilo. Alguns dias depois a reportagem encontrou usuários de volta. Mas com o pasar do tempo, eles se espalharam pelas ruas de Jundiaí e ocuparam áreas na Ponte São João ou praças como a Bandeira ou a das Rosas, no Centro. “Jundiaí não tem uma cracolândia como a de São Paulo. O que acontece é que coincidentemente os usuários se aglomeravam nos barracos da Vila Aparecida. Agora, eles se viram obrigados a ficar pelas ruas”, afirmou um dos policiais ouvidos pelo BOM DIA. Segundo reportagem da revista “Veja”, pesquisa mostra que 98% das cidades do Brasil têm problemas em razão do crack, sem que haja um plano nacional para mudar esse triste panorama.

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