sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Prefeitura gasta R$ 500 mil em armas, 

Mais de 300 revólveres e pistolas estão guardados há 9 anos porque agentes não têm porte de arma. Mesmo assim, guarda admite trabalhar armado.

Em Belo Horizonte, a Guarda Municipal tem mais de 300 armas estocadas há nove anos. O arsenal custou quase R$ 500 mil. Mas os agentes não podem usar as armas porque não têm treinamento.
No Brasil, cidades com mais de 50 mil habitantes podem armar as Guardas Municipais. Mas é preciso seguir critérios como treinamento técnico e autorização daPolícia Federal para porte de arma e testes de capacidade psicológica.
A Guarda Civil Metropolitana de São Paulo trabalha armada. No Rio de Janeiro, uma lei municipal proíbe essa prática.
Em Belo Horizonte, a prefeitura chegou a comprar, em 2005, 300 revólveres calibre 38 e outras 50 pistolas 380 para os guardas municipais. Só que as armas nunca foram distribuídas e estão até hoje sob os cuidados da Polícia Militar – um gasto de quase meio milhão de reais.
O Ministério Público está processando o município e quer saber porque o dinheiro foi gasto dessa maneira. “Eles tiveram uma autorização do Exército para comprar, mas eles não tiveram uma autorização da Polícia Federal para portar a arma. Então, sem o porte, você não pode utilizar a arma em via pública”, explica o promotor de Justiça Eduardo Nepomuceno.
A assessoria da Guarda Municipal informou, em nota, que o uso das armas depende da análise de questões técnicas e orçamentárias.
Alheio à indefinição do poder público, um guarda municipal vai para o trabalho armado. Ele diz que outros colegas também usam armas. E explica que é uma forma de proteção porque muitas vezes precisam fazer a segurança em áreas perigosas. “A gente vê isso toda hora, tráfico na frente da gente. Nós já passamos por ocasião da pessoa ter sido roubada, com arma de fogo, e a gente ficar assim, indefeso”, diz o guarda municipal, sem se identificar.
O especialista em Segurança Pública Luiz Flávio Sapori não vê necessidade de armar a corporação. “Não é o trabalho de ficar prendendo criminosos, de ficar reprimindo o tráfico de drogas, por exemplo. Arma de fogo é adequada para alguém, para um profissional que está em embate direto com o crime, principalmente, com o crime violento”, avalia o doutor em Sociologia.
A Guarda Municipal de Belo Horizonte informou que se algum agente for flagrado usando arma de fogo, ele será punido e pode ser exonerado. Nem a prefeitura, nem a Guarda Municipal quiseram explicar por que as armas foram compradas, se os agentes não tinham porte.

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