domingo, 14 de fevereiro de 2016

Sobrecarga e risco na rotina policial

Na terceira reportagem da série sobre segurança pública, O POPULAR mostra o estresse e a tensão no dia a dia do profissional da área - por vezes ele mesmo vítima da violência que cresce e preocupa o cidadão
Mantovani Fernandes/9.2.2016
Colegas e familiares no sepultamento de Oscar Charife Abrão Garcia, morto em troca de tiros com assaltantes
As mortes do policial civil Oscar Charife Abrão Garcia, em uma tentativa de assalto a um pit-dog no Setor Oeste, na noite do dia 7, e do cabo da Polícia Militar Antônio Moreira Machado Neto, em uma chácara em Uruana, no dia 8, são situações extremas em profissões perigosas e estressantes por natureza. A rotina de acompanhar casos de violência e de criminalidade afeta a vida dos profissionais de segurança pública.
O sargento da Polícia Militar (PM) acorda assustado às 5h30, achando que está no meio de uma ocorrência. Toma um banho rápido, veste a farda e pega a motocicleta para assumir o trabalho de policiamento de toda uma região às 7 horas. Na viatura, apenas ele e um colega de farda. Um cuidando da vida do outro. O maior medo: o confronto com criminosos.
"Na hora do confronto é você e Deus. Do outro lado, o criminoso, que já não tem nada a perder", relata ele, que é casado e tem uma filha. Quando entrou na PM, seu desejo era ajudar a sociedade e, em troca, ter um bom plano de saúde para a esposa e a filha, além de um emprego com estabilidade.
A vida do policial militar é árdua, sem hora certa para beber água, ir ao banheiro ou se alimentar. “É quando dá. Não tem como prever o que irá acontecer nas ruas e nem se estará lotado na mesma unidade nos dias seguintes ou se hoje você volta para casa”. Tremores, depressão, problemas digestivos, dores nas pernas e pés, problemas de pele e de pressão são comuns na tropa, resultados de uma carga horária exaustiva.

Preocupação
"Não há efetivo suficiente. Mesmo de licença médica tenho de fazer extra", conta um cabo com 13 anos de PM. Ele arruma o próprio almoço ainda de madrugada e sai para o trabalho, a 200 quilômetros de onde mora. Fica ali por dois dias. “Além da pressão do próprio trabalho, ainda tem a preocupação com a família em outra cidade.”
Desde 2011, segundo a Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária (SSPAP), três policiais militares foram mortos em serviço e outros 23 fora do serviço; oito policiais civis também foram mortos em confrontos fora do horário de trabalho.
“Não somos seres alienígenas que apareceram e se tornaram policiais militares. Somos parte da sociedade e tudo que a atinge, inclusive a violência, nos atinge também. A diferença é que estamos na linha de frente. Enfrentamos os criminosos, somos treinados e qualificados para estar nessa linha de frente", diz o tenente coronel Ricardo Mendes, assessor de comunicação social da Polícia Militar.
“Na Polícia Civil não é muito diferente. Uma escrivã lembra que adoeceu depois de trabalhar exaustivamente em uma delegacia da capital na conclusão de inquéritos. Diagnosticada com depressão e afastada por atestado médico, foi avaliada negativamente pelo delegado responsável, o que prejudicou a pontuação de toda a equipe.

Produtividade
Na corporação, cada agente, escrivão e delegado são avaliados de acordo com a produtividade, sem levar em consideração, portanto, as licenças médicas.
“O que aconteceu com a colega é que na avaliação semestral, para fins de promoção, a nota dela foi a mais baixa”, explica outro escrivão.
Na Polícia Civil, segundo ele, outro problema é a falta de material para se trabalhar. “A administração fornece apenas papel e toner para as impressoras. O restante é comprado pelo servidor.”
A pressão também é um fator de risco para servidores da Polícia Técnico Científica. Com o mesmo número de peritos criminais há 20 anos, a superintendência tem sido cobrada para dar mais celeridade aos laudos de exames periciais.
O presidente da Associação dos Peritos Criminais e Médicos Legistas de Goiás, Antônio Carlos de Macedo Chaves, lembra que há um déficit crescente de peritos oficiais: apesar de ter sido realizado concurso para 250 peritos criminais e 150 médicos legistas, nenhum candidato foi nomeado para os cargos. O concurso já foi homologado e os profissionais já foram capacitados em curso de formação.
“Os plantões têm funcionado com número reduzido de peritos, que acabam por acumular dezenas de laudos periciais, exigindo dedicação do perito, inclusive fora do seu horário de trabalho, para elaborar um relatório que será fundamental na promoção da justiça”.

Resposta
A assessoria de imprensa da SSPAP, em nota ao POPULAR, declarou que reclamações sobre carga de trabalho de policiais civis, militares e técnico científicos deveriam ser respondidas pelas direções das polícias separadamente.

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