sexta-feira, 23 de março de 2012

Ivan de Carvalho
As armas paralisantes Publicada: 23/03/2012 01:02| Atualizada: 23/03/2012 00:13

por disparos de armas taser, em Sidney, Austrália, reforça os argumentos dos que se opõem ao uso deste tipo de equipamento pelas polícias e, como ensaia se tornar moda no Brasil, também pelas guardas municipais, a exemplo da Guarda Municipal de Salvador, que já deu a uma parte de seus integrantes treinamento para operar essas chamadas armas de choque.

Roberto Curti foi perseguido pela polícia australiana sob uma ainda polêmica acusação de haver furtado um pacote de biscoitos de uma loja de conveniência, durante a madrugada. Um dos funcionários da loja disse a um repórter brasileiro de uma emissora australiana que não reconheceu o brasileiro como sendo o homem que entrou na loja, furtou o pacote de biscoitos e fugiu. As imagens do incidente gravadas pelas câmeras de vigilância estão sob exame policial, mas até ontem não haviam sido disponibilizadas ao exame da imprensa e nem dos representantes da família de Roberto Curti.
Assim, além de se tratar de um crime leve, não está comprovado que o brasileiro haja sido o autor. Mas ele foi perseguido por vários policiais, sofreu um disparo de arma taser, que produz um choque paralisante. Caído, inerme, foi atingido por mais três disparos totalmente desnecessários e injustificáveis. Morreu na hora.
No Senado Federal, em Brasília, a segurança da Casa usa armas taser. O presidente José Sarney mandou abrir uma sindicância para apurar a agressão ao estudante Rafael Rocha, da UNB. O estudante de Geologia foi imobilizado pelo disparo paralisante de uma arma taser e desmaiou, resultado que não é pretendido pelo disparo, cujo objetivo é paralisar a pessoa por 15 segundos, em média. Mas o fato evidente é que cada caso é um caso e o organismo de cada pessoa reage de maneira diversa dos organismos de outras.
Daí que existem muitas críticas e objeções sérias às armas taser. À frente da oposição a essas armas está a organização Anistia Internacional. Um levantamento indicou que pelo menos 350 pessoas já morreram por causa dos disparos de armas taser de 2001 a 2008, somente nos Estados Unidos. Apesar disso, em 2006, a representante dos produtos Taser no Brasil, a Ability BR, garantia que a arma não traz riscos. “Até agora mais de 150 mil pessoas foram atingidas pelos disparos do taser e isso não matou ninguém. Eu já levei sete tiros de taser”, disse o consultor de segurança da empresa, Paulo Rogério Ribeiro Luz.
O especialista em segurança pública e ex-juiz Walter Maierovich é enfático quanto ao uso desse tipo de arma tida como não letal. “Eu acho que é uma temeridade, um absurdo. Os riscos são terríveis”. Citando a Anistia Internacional, ele diz que os disparos taser são especialmente perigosos para pessoas portadoras de cardiopatias ou que estejam sob o efeito de drogas. Há também indicações de que em mulheres grávidas os riscos são extremamente altos, não só para a gestante como para o embrião ou feto. E nem sempre quem segura a arma pode saber se a mulher está grávida ou não.
Não é só no exterior e no Senado brasileiro que as armas fazem “sucesso”. Já em 2006, essas armas haviam sido compradas (seis exemplares) para a Guarda Municipal da modesta Araçariguama, cidade paulista.
A questão é que, sendo a arma supostamente “não letal”, o policial ou guarda municipal ou segurança de órgão público tem a propensão de apertar o “gatilho” com muito mais frequência e sem real necessidade. Dá uma vontade danada. E vai que um aperta, outro também e mais outro, e outro mais – e então o alvo morre, como ocorreu na Austrália. Ou o alvo tem, por exemplo, arritmia cardíaca e faz o favor de morrer logo no primeiro disparo.
Publicada: 23/03/2012 01:02| Atualizada: 23/03/2012 00:13

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